segunda-feira, 17 de maio de 2010

Non é unha caixa, de Antoinette Portis

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Alvo de várias e importantes distinções, este álbum original (sem edição ainda em Portugal) dá conta do potencial criativo da criança e da sua capacidade para construir realidades utópicas a partir de objectos quotidianos e das formas. Com base numa situação simbolicamente infantil – onde a realidade e o onírico/devaneio se cruzam –, a história centra-se num pequeno coelho esforçado em provar à voz omnisciente (aparentemente adulta) que o interroga que a sua caixa, como o próprio título antediz, não é uma caixa! Assim, aquilo que parece tratar-se de um simples caixote pode, página a página, converter-se no mais extraordinário artefacto: num carro, num prédio em chamas, num robot, num foguetão, e em tudo o que, no fim de contas, a sua imaginação tolerar. O livro distingue-se não só pelo seu conteúdo como pela sua configuração gráfica – visível sobretudo na articulação da capa com a contracapa –, reunindo a cor, a textura e o aspecto de uma autêntica caixa de papelão (e indicando inclusivamente o volume e a posição correcta do invólucro). O discurso, verbalmente simples, condensado e directo, une-se a um registo plástico minimalista, cujas ilustrações, além de complementarem e alargarem os sentidos do texto, se destacam pela singeleza do traço e pela sua expressividade, originando num eficaz jogo de cores (preto/vermelho) e de perspectiva a facilitar a interpretação e o estabelecimento de relações por parte dos mais novos. Uma obra ímpar que não só desafia as expectativas do leitor, convidando à exploração de novos mundos e fomentando a imaginação e a interacção adulto-criança, como permite a familiarização com um conjunto de conceitos espaciais básicos.

Carina Rodrigues

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