No
árido terreno das publicações vocacionadas para os leitores mais pequenos, não
surpreende que sejam autores experientes, inovadores e sensíveis − aqueles que
conseguem agradar a públicos diferenciados: crianças e adultos, leitores e
investigadores − a abalançarem-se em projetos como Como te sentes? (Kalandraka, 2012). Menos surpreende, ainda, que um
volume como o que aqui nos ocupa seja assinado por Anthony Browne, um dos mais talentosos e
imaginativos criadores de álbuns contemporâneos, cuja obra lhe trouxe, no ano
2000, o mais prestigiado galardão internacional, o Prémio Hans Christian
Andersen.
Na sua mais recente publicação, o brevíssimo texto, apresentado sob a forma de curtas orações em resposta à pergunta materializada no título/prólogo, concorre, ao lado de uma componente plástica contida e expressiva, para a configuração de uma obra minimal sobre sentimentos comuns na infância. Um livro ainda definido, segundo a editora, como sendo «de autoconhecimento e de socialização». Ora, à simplicidade aparente deste álbum e aos seus desígnios temáticos, ductilmente sintonizados com o destinatário preferencial, parecem sobrepor-se outros recursos narrativos originais e essenciais à promoção de uma educação literária e estética.
Em
diálogo com a voz omnisciente que o interroga, e que deixa, aliás, implícito o
lugar do mediador no processo de receção do álbum, o pequeno protagonista,
corporizado num simpático símio personificado, exprime os seus mais habituais sentimentos
e estados de alma. As imagens, centradas nas ações e expressões da personagem e
reproduzidas sobre fundos coloridos visual e semanticamente férteis, acompanham
a estrutura repetitiva do texto, conferindo dinamismo à leitura e encorajando a
sua recriação por parte da criança. Na sua mais recente publicação, o brevíssimo texto, apresentado sob a forma de curtas orações em resposta à pergunta materializada no título/prólogo, concorre, ao lado de uma componente plástica contida e expressiva, para a configuração de uma obra minimal sobre sentimentos comuns na infância. Um livro ainda definido, segundo a editora, como sendo «de autoconhecimento e de socialização». Ora, à simplicidade aparente deste álbum e aos seus desígnios temáticos, ductilmente sintonizados com o destinatário preferencial, parecem sobrepor-se outros recursos narrativos originais e essenciais à promoção de uma educação literária e estética.
A
reforçar os conceitos recriados estão, ainda, a presença icónica de elementos simbólicos
e/ou do quotidiano – incluindo intertextualidades pontuais que possibilitam ao
leitor o reconhecimento de referências do seu próprio mundo visual −, mas também
uma primorosa variação de planos e perspetivas, jogos cromáticos, de luzes e
sombras, e até o próprio lettering.
Estratégias que, em função da carga emotiva de cada conceito/leitor, potenciam
uma relação sensorial e sinestésica com o álbum. Digno de nota é, ainda, o
final questionador e interativo da publicação que, influenciado pelo paradigma pós-modernista,
esbate as fronteiras que separam autor, narrador e leitor.
Em
suma, num registo que conjuga, com habitual delicadeza, o humor e a
sensibilidade interior dos seres, este volume explicitamente destinado às
primeiras idades transporta a criança numa jornada em busca de si mesmo, funcionando
como espelho, não tanto para uma autocontemplação narcísica, mas antes para o
conhecimento/aceitação do Eu e a sua observação para além das aparências.
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