domingo, 30 de maio de 2010

Centenário de Leo Lionni (1910-1999)

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No passado dia 5 de Maio, Leo Lionni, uma das figuras de maior visibilidade no cânone da literatura de potencial recepção infantil, celebraria 100 anos de uma vida atravessada por uma visão humana da infância, da arte e da natureza. Esta fora, aliás, a mesma visão que, compaginada com um profundo pensamento poético, norteara toda a obra do criador num labor plástico-literário perfeitamente admirável e reconhecível não só pela qualidade das suas opções formais e temáticas como pelo avultado número de publicações, já mundialmente difundidas e enobrecidas.

Leo Lionni nasceu, em Amesterdão, de um modesto polidor de diamantes e de uma cantora de ópera de origem italiana, expressando, desde muito cedo, um especial apreço pelas artes plásticas. Ainda que sem formação naquela área – licenciando-se, em 1935, em Economia Política –, foi desenvolvendo a sua habilidade artística em domínios como a escultura, a cerâmica, a pintura, o design gráfico e a ilustração. Em 1939, emigrou para os Estados-Unidos, onde se voltou para a publicidade enquanto director de arte de diversas publicações periódicas, até regressar a Itália, duas décadas depois, e se fixar como artista autónomo.
Fora por casualidade que, em finais dos anos cinquenta, Lionni se estreara na escrita e ilustração para os mais novos. Porém, desde o clássico Pequeno azul e pequeno amarelo (1959), com que o artista se exarara no grupo das vozes precursoras e paradigmáticas na criação de picture story books, até à sua última obra Uma pedra extraordinária, publicada em 1994 (e sem edição ainda em Portugal), Lionni deu voz a 35 anos de uma criação artística dedicada ao público infantil, relevando de uma obra consistente e merecedora de inúmeras distinções internacionais.
Influenciadas pela estrutura fabulística, as suas histórias, pautadas por uma evidente economia, são protagonizadas por animais humanizados movidos por sentimentos inerentes à infância. Desprovidas de veleidades moralizantes, denunciando as potencialidades que este tipo de estrutura ostenta em edições contemporâneas, as fábulas de Lionni aproximam a criança das mais distintas realidades da vida, alicerçadas, entre outros tópicos, na amizade, na aceitação da diferença e da individualidade humana, na partilha ou na entreajuda.
Fiel a uma imperante e sensível linguagem pictórica, apoiada num universo pitoresco de técnicas – algumas, até, revolucionárias, como foi o caso da sua primeira obra, na qual introduziu a representação abstracta, através do recurso à colagem e ao papel rasgado –, a sublinhar a dimensão lírica e artística da obra, Lionni converteu-se num dos mais reconhecidos ilustradores universais, influenciando grande parte da produção contemporânea e contribuindo para a divulgação e a legitimação do álbum narrativo ilustrado.
Carina Rodrigues
Para uma visão mais detalhada do percurso biobibliográfico do autor clássico, aceda a uma merecida homenagem publicada pela Kalandraka, com motivo desta efeméride.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Non é unha caixa, de Antoinette Portis

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Alvo de várias e importantes distinções, este álbum original (sem edição ainda em Portugal) dá conta do potencial criativo da criança e da sua capacidade para construir realidades utópicas a partir de objectos quotidianos e das formas. Com base numa situação simbolicamente infantil – onde a realidade e o onírico/devaneio se cruzam –, a história centra-se num pequeno coelho esforçado em provar à voz omnisciente (aparentemente adulta) que o interroga que a sua caixa, como o próprio título antediz, não é uma caixa! Assim, aquilo que parece tratar-se de um simples caixote pode, página a página, converter-se no mais extraordinário artefacto: num carro, num prédio em chamas, num robot, num foguetão, e em tudo o que, no fim de contas, a sua imaginação tolerar. O livro distingue-se não só pelo seu conteúdo como pela sua configuração gráfica – visível sobretudo na articulação da capa com a contracapa –, reunindo a cor, a textura e o aspecto de uma autêntica caixa de papelão (e indicando inclusivamente o volume e a posição correcta do invólucro). O discurso, verbalmente simples, condensado e directo, une-se a um registo plástico minimalista, cujas ilustrações, além de complementarem e alargarem os sentidos do texto, se destacam pela singeleza do traço e pela sua expressividade, originando num eficaz jogo de cores (preto/vermelho) e de perspectiva a facilitar a interpretação e o estabelecimento de relações por parte dos mais novos. Uma obra ímpar que não só desafia as expectativas do leitor, convidando à exploração de novos mundos e fomentando a imaginação e a interacção adulto-criança, como permite a familiarização com um conjunto de conceitos espaciais básicos.

Carina Rodrigues

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Prémio Nacional de Ilustração 2009

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Bernardo Carvalho foi distinguido com aquele que é seguramente o mais importante prémio ao trabalho de ilustradores na área da literatura para a infância e a juventude em Portugal - O Prémio Nacional de Ilustração 2009 -, pelas imagens que uniu sinergicamente ao texto de Isabel Minhós Martins no álbum Depressa, Devagar (Planeta Tangerina).


De entre os 76 artistas a concurso, estiverem Madalena Matoso e Marta Madureira, igualmente distinguidas com uma menção especial pelas suas respectivas criações plásticas em Andar Por Aí (Planeta Tangerina) e Livro dos medos (Editora Trampolim).

Recorde-se que, em edições anteriores, o prémio fora já atribuído a artistas tão prestigiados quão Gémeo Luís, Teresa Lima, Marta Torrão ou, ainda, Cristina Valadas.

A lista das obras destacadas pelo júri pode ser consultada AQUI