quarta-feira, 23 de maio de 2012

Álbum e Arte de mãos dadas: O artista que pintou um cavalo azul, de Eric Carle


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Na actual literatura infantil, a dimensão artística do livro deixa de se cingir, de forma exclusiva, à dimensão literária do texto ou ao valor estético das ilustrações, mantendo a Arte uma presença assídua, enquanto motivo de tematização. O álbum surge, aliás, como umas das formas mais relevantes no que toca à aproximação das suas publicações a diversos movimentos ou tendências estéticas e artísticas, proporcionando uma familiarização com técnicas, linguagens e representações distintas. Desde as adaptações bio(biblio)gráficas de importantes criadores da história da Arte, e da pintura em particular, à ficcionalização da criação artística como espelho do mundo e da individualidade humana, este segmento editorial tem aproximado o leitor infantil das mais variadas facetas da Arte, estimulando o diálogo intertextual/interartístico e despertando o interesse por um universo altamente enriquecedor e prolífico.

Em 2012, a Editorial Kalandraka dá a lume um título particularmente emblemático: O artista que pintou um cavalo azul, do ilustre criador norte-americano Eric Carle. Homenagem inequívoca a um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha, Franz Marc (1880-1916), o álbum em análise constitui, pois, um excelente exercício de educação visual. Inspirado na sua obra-prima, Cavalo azul I (1911), o volume classificável na tipologia do “álbum catálogo” (Ramos, 2011) desvenda, aos olhos dos mais novos, uma galeria de animais coloridos que convidam ao jogo intertextual.




Num registo inconfundível, assente no recorte/colagem de pedaços de papel matizado, as ilustrações de grandes dimensões e visualismo do autor d’A lagartinha muito comilona (2007) revelam particular expressividade e textura, numa representação pouco convencional do traço, das formas e das cores. Marcada pela simplicidade e contenção vocabular, a narrativa em primeira pessoa inicia-se com uma breve apresentação da figura elogiada − «Sou um artista e pinto...». Aí então, segundo uma estratégia enumerativa polissindética, tipicamente conotada com o discurso infantil, sucedem-se vários animais divertidos e, retomando as palavras do autor, «pintados com cores ‘erradas’».




Se, por um lado, a composição gráfica do álbum convida ao virar de página, sugerindo o enigma e a enunciação de hipóteses interpretativas; por outro, as incongruentes opções cromáticas face à natureza de cada um dos seres retratados e o absurdo das associações propostas promovem a surpresa e o humor. Num desfecho marcadamente lúdico − quiçá, irónico − e, até, nonsensical, o álbum também revela um certo pendor autobiográfico, permitindo ao próprio ilustrador a apologia de um estilo distinto e recebido como controverso, sublinhando a legitimidade da liberdade do acto criador. Uma pura definição de Arte, portanto.


Referências bibliográficas:

RAMOS, Ana Margarida (2011), “Apontamentos para uma poética do álbum contemporâneo”, in Roig Rechou, Blanca-Ana, Soto López, Isabel e Neira Rodríguez, Marta (Coord.) (2011), O álbum na literatura infantil e xuvenil (2000-2010). Vigo: Xerais, pp. 13-40.


Carina Rodrigues

Originalmente publicado em El Correo Gallego, a 1 de maio de 2012
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terça-feira, 8 de maio de 2012

Maurice Sendak (10 de junho de 1928 - 8 de maio de 2012)


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Os monstros soltaram os seus terríveis rugidos,
e rangeram os seus terríveis dentes,
e reviraram os seus terríveis olhos
e mostraram as suas terríveis garras.
Mas Max meteu-se no seu barco e despediu-se.


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