terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Todos diferentes, todos iguais: Ninhos, de Pepe Márquez e Natalia Colombo



.         Temáticas próximas do universo infantil, os animais e a variedade das espécies e da Natureza são as que servem de cenário ao álbum Ninhos, recentemente editado pela Kalandraka, com texto de Pepe Márquez e ilustrações de Natalia Colombo. Preferencialmente dirigida aos mais pequenos leitores, esta obra é, também, uma prova de que a simplicidade (aparente) se pode tornar num dos mais eficazes ingredientes quando se deseja contar uma história por meio de palavras e imagens.
Num estilo que combina uma especial poeticidade e um humor subtil, a tocar, por momentos, o nonsense (sobretudo a cargo da componente visual), a dupla argentina desvenda ao olhar dos mais novos uma galeria de aves e apoia-se na metáfora do ninho − enquanto símbolo da casa, lugar de proteção e maturação, e (des)abrigo do “eu” − para abordar conceitos como a (bio)diversidade e a fauna, mas também a própria diferença nos modelos familiares.
Partindo de combinações pictórico-verbais hábeis em estimular a imaginação da criança, apelando à reflexão e ao questionamento pelo preenchimento dos inúmeros “espaços em branco” sugeridos por ambas as linguagens verbal e visual, a delicadeza do tema é atenuada pela originalidade plástica dos seres e ninhos retratados, e pela comicidade das associações propostas. Por sua vez, o texto breve, grafado em letras maiúsculas, socorre-se das imagens para sublinhar a representação da diferença ou a singularidade de cada espécie de pássaro/ninho correspondente, demonstrando, à semelhança dos seres humanos, poderem ser, simultaneamente, muito diferentes e parecidos entre si, e promovendo, deste modo, a identificação dos leitores com o universo recriado. Numa técnica mista, com recurso à textura e a uma reduzida e luminosa paleta cromática, os esquiços de Natalia Colombo, «esquemáticos e de perfis pouco definidos», como assim definem os responsáveis editoriais o registo plástico da premiada autora de Perto (Kalandraka, 2008), acentuam, pois, o carácter lúdico da obra, potenciando uma mensagem, simultaneamente, clara, didática e divertida.
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       Álbum metafórico e de impacto emotivo, a singeleza da sua composição, harmoniosa, delicada e atrativa, a sua simplicidade no fundo e na forma, são elementos que não só auxiliam a promoção de hábitos de leitura, como garantem a adesão de pequenos e grandes leitores. Atente-se, ainda, no final questionador e reflexivo da obra, cuja mensagem recai sobre a simbologia do ninho, demonstrando que o importante não é o lugar onde ele é colocado, mas o amor e o abrigo que encerra. Além disso, a recriação de temáticas ligadas à diversidade da Natureza − e do mundo tout court −, apelando, ainda que de forma mais ou menos explícita, à riqueza da diversidade social e familiar, também fará sobressair, na obra em destaque, um elogio da diferença, defendendo a sua aceitação e o respeito pela individualidade do Ser. 
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 Carina Rodrigues
Originalmente publicado em El Correo Gallego, a 14 de setembro de 2013
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