quinta-feira, 24 de junho de 2010

Une histoire sombre, très sombre, de Ruth Brown

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Um clássico da literatura de potencial recepção infantil que, pela chave mágica "Era uma vez..."
tradicionalmente introdutória dos contos , abre aos seus leitores as portas do maravilhoso, num conto em formato de álbum. Neste volume original, o leitor é convidado a participar num "história escura, muito escura" onde, através de um curioso princípio de encaixe (um efeito de mise en abyme simultaneamente gráfico e sintáctico), é transportado para sucessivos espaços tenebrosos e arrepiantes, e em que o suspense, o medo e a tensão se cruzam à medida que se viram as páginas. Ao nível do tratamento narrativo, o livro é composto por breves unidades de leitura que, aliadas à componente pictórica, profusamente ilustrada (de página dupla) e repleta de piscadelas de olho ao leitor, promovem a antecipação e a criação de hipóteses interpretativas. O ritmo e a musicalidade das palavras harmoniosamente combinados com uma variação de planos e perspectivas e com um contraste de tonalidades, de luzes e sombras que, para além de recriarem os ambientes e os locais de forma sinérgica e dinâmica, reforçam o mistério que perpassa esta obra marcada por um final surpreendente e risonho.

Carina Rodrigues (in Casa da leitura)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Le secret, de Éric Battut

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Álbum minimalista, e de particular eficácia junto dos mais novos, Le Secret é protagonizado por um pequeno rato que encontra, um dia, uma maçã e resolve enterrá-la, fazendo dela o seu segredo. Numa estratégia de jogo cúmplice com o leitor – que percebe, diante dos seus olhos, o que acontece ao protagonista enquanto este se esforça, muito ingenuamente, em manter escondido o seu tesouro –, vários animais (um esquilo, um pássaro, um sapo, etc.) tentam questioná-lo, em vão, sobre o seu mistério, ao mesmo tempo que a natureza se encarrega de desvendá-lo, dando vida a um pequeno arbusto, que cresce, progressiva e negligentemente, nas costas do ratinho, e se transforma numa maravilhosa macieira carregada de «segredos» para todos. A estrutura repetitiva e paralelística que suporta a narrativa, bem como os efeitos sonoros e rítmicos que dela se desprendem, conferem dinamismo e ludicidade ao texto simples e breve, e encorajam a sua recriação por parte da criança. Do ponto vista visual/plástico, o álbum não é menos parcimonioso, compondo-se de ilustrações extremamente acessíveis e claras, especialmente centradas em personagens figuradas num espaço reduzido da página nobre do livro, facilitando, deste modo, a orientação/concentração do olhar leitor. A própria mancha gráfica releva de um cuidado particular, sobretudo ao nível do lettering, que vai variando de forma e de cor a cada sequência da narrativa.

Carina Rodrigues (in Casa da leitura)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Encontro "Ler para crescer"

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O encontro final do projecto de promoção da leitura "Ler para Crescer", da Biblioteca Municipal de Ílhavo, realiza-se no próximo dia 3 de Julho.



Entrada é gratuita, mediante inscrição prévia, com direito a certificado.


As inscrições poderão ser feitas através do preenchimento da ficha de inscrição, remetida pelo correio, no Balcão da Recepção da BMI ou através do e-mail: biblioteca_municipal@cm-ilhavo.pt, até ao próximo dia 30/06/2010.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Relendo os clássicos...

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Passado meio século desde a sua edição original, em 1956, com que o seu autor redefiniu o estatuto da imagem no álbum narrativo para a infância, Lágrimas de Crocodilo chega, finalmente, aos escaparates das livrarias portuguesas, sob a agradecida chancela da Bruaá. Numa proposta estética claramente inovadora, André François, que foi sendo rotulado como um dos principais mestres da ilustração do século XX, leva-nos a conhecer, de uma forma humorística e, até, inusitada, o significado da expressão que dá título ao livro, numa obra indiscutivelmente original, cujo sentido plástico não se cinge à ilustração mas alcança igualmente a composição da página, estendendo-se ao livro-objecto. Neste volume, a leitura e o jogo encetam-se mesmo antes da sua abertura, precisamente numa caixa-envelope de formato oblongo, onde é transportado o livro – e o crocodilo-protagonista, a que a capa e a contracapa se referem desde logo. A criatividade do artista avulta justamente no próprio arranjo gráfico da obra, na forma como pondera a sua materialidade e na atenção especial que dá ao conjunto das suas componentes formais e paratextuais. A ilustração, pautada por uma economia cromática, realizada a traço negro e, única e irregularmente, preenchida com verde e laranja, revela-se particularmente sugestiva, chegando, não raras vezes, a preencher as lacunas ou os «espaços em branco» evidenciados pelo texto. Trata-se, pois, como no-lo indica o epitexto editorial, de uma obra histórica, revolucionária, hilariante, e… obrigatória!

Carina Rodrigues (in Casa da Leitura)

Adaptado de "Protagonistas elixidos", inicialmente publicado em El Correo Gallego, a 8 de Junho de 2010, disponível AQUI