domingo, 28 de março de 2010

Mensagem do 2 de Abril de 2010, Dia Internacional do Livro Infantil

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Um livro espera-te. Procura-o


Era uma vez
um barquinho pequenino,
que não sabia,
não podia
navegar.


Passaram uma, duas, três,
quatro, cinco, seis semanas,
e aquele barquinho,
aquele barquinho
navegou.


Antes de se aprender a ler aprende-se a brincar. E a cantar. Eu e os meninos da minha terra entoávamos esta cantiga quando ainda não sabíamos ler. Juntávamo-nos na rua, fazendo uma roda e, ao despique com as vozes dos grilos no Verão, cantávamos uma e outra vez a impotência do barquinho que não sabia navegar.

Às vezes construíamos barquinhos de papel, íamos pô-los nos charcos e os barquinhos desfaziam-se sem conseguirem alcançar nenhuma costa.

Eu também era um barco pequeno fundeado nas ruas do meu bairro. Passava as tardes numa açoteia vendo o sol esconder-se à hora do poente, e pressentia na lonjura – não sabia ainda se nos longes do espaço, se nos longes do coração – um mundo maravilhoso que se estendia para lá do que a minha vista alcançava.

Por detrás de umas caixas, num armário da minha casa, também havia um livro pequenino que não podia navegar porque ninguém o lia. Quantas vezes passei por ele, sem me dar conta da sua existência! O barco de papel, encalhado na lama; o livro solitário, oculto na estante, atrás das caixas de cartão.

Um dia, a minha mão, à procura de alguma coisa, tocou na lombada do livro. Se eu fosse livro, contaria a coisa assim: «Certo dia, a mão de um menino roçou na minha capa e eu senti que as minhas velas se desdobravam e eu começava a navegar».

Que surpresa quando, por fim, os meus olhos tiveram na frente aquele objecto! Era um pequeno livro de capa vermelha e marca-de-água dourada. Abri-o expectante como quem encontra um cofre e ansioso por conhecer o seu conteúdo. E não era para menos. Mal comecei a ler, compreendi que a aventura estava servida: a valentia do protagonista, as personagens bondosas, as malvadas, as ilustrações com frases em pé-de-página que observava uma e outra vez, o perigo, as surpresas…, tudo isso me transportou a um mundo apaixonante e desconhecido.

Desse modo descobri que para lá da minha casa havia um rio, e que atrás do rio havia um mar e que no mar, à espera de partir, havia um barco. O primeiro em que embarquei chamava-se Hispaniola, mas teria sido igual se se chamasse Nautilus, Rocinante, a embarcação de Sindbad ou a jangada de Huckleberry. Todos eles, por mais tempo que passe, estarão sempre à espera de que os olhos de um menino desamarrem as suas velas e os façam zarpar.

É por isso que… não esperes mais, estende a tua mão, pega num livro, abre-o, lê: descobrirás, como na cantiga da minha infância, que não há barco, por pequeno que seja, que em pouco tempo não aprenda a navegar.

ELIACER CANSINO
Tradução: José António Gomes

Eliacer Cansino Macías (Sevilha, 1954) é professor de Filosofia numa escola de Sevilha, desde 1980, e autor de romances para jovens e adultos. Em 1997, recebeu o Prémio Lazarillo por O Mistério Velázquez, recriação da vida do anão Nicolasillo Pertusato e da sua relação com Velázquez. Em 1992, foi-lhe outorgado o Prémio Internacional Infanta Elena pelo livro Eu, Robinsón Sánchez, tendo naufragado, obra que foi também finalista do Prémio Nacional de Literatura Infantil, de Espanha. Em 2009, recebeu o Prémio Anaya de Literatura Infantil e Juvenil por Um Quarto em Babel. O lápis que encontrou o seu nome (2005). Tem muitos outros títulos editados.

A Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil é uma iniciativa do IBBY (International Board on Books for Young People), difundida em Portugal pela APPLIJ (Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil), Secção Portuguesa do IBBY.

sexta-feira, 12 de março de 2010

"Mini Biblioteca Essencial" agora disponível na Casa da Leitura

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O catálogo "Mini Biblioteca Essencial",
a sugerir, relembre-se, um conjunto de títulos essenciais para pré-leitores, leitores iniciais, medianos e autónomos, e co-editado com a Casa da Leitura, poderá, igualmente, ser consultado AQUI.
Recorde-se, também, que, além destas sugestões, o pequeno guia inclui, ainda, outros conselhos práticos e úteis para a promoção da leitura em contexto familiar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

BolonhaRagazzi Awards 2010: um olhar sobre There was an old lady who swallowed a fly

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Foram recentemente anunciados os vencedores do Prémio Bolonha Ragazzi 2010. Além das obras distinguidas com menções especiais, cujas imagens e outras informações se encontram disponíveis aqui, nesta 46ª edição da Feira do Livro Infantil de Bolonha, a decorrer de 23 a 26 do presente mês de Março, estarão em destaque os títulos premiados:

- na Categoria Fiction, De Boomhut, com texto de Ronald Tolman e ilustrações de Marije Tolman (editora Lemniscaat, Holanda);

- na Categoria Non-Fiction, The Riverbank, com texto de Charles Darwin e ilustrações de Fabian Negrin (editora The Creative Company, EUA);

- na Categoria New Horizons, Do!, com texto de Gita Wolf e ilustrações de Ramesh Hengadi e Shantaram Dhadpe (editora Tara Books, Índia);

- na Categoria Opera Prima, There was an old lady who swallowed a fly, de Jeremy Holmes (Chronicle Books, EUA).


Detenhamo-nos, por breve instante, neste último título, cuja configuração visual/plástica exige dos seus leitores uma leitura e uma manipulação particularmente atentas e demoradas.


I
nspirado numa das mais célebres canções infantis do mundo anglo-saxónico,
Jeremy Holmes cria um álbum narrativo de estrutura paralelística e de tipo acumulativo, e trata, de forma muito original e até humorística, de um mote raramente versado no universo literário para a infância - a morte. Com simplicidade discursiva, o texto, marcado pela repetição e pelo jogo de sonoridades, une-se à elaborada e inovadora concepção gráfica da obra, com especial cuidado ao nível do formato, da composição da página e da pormenorização, concorrendo, sinérgica e eficazmente, ambas narrativas - verbal e visual - para a criação de sentidos e para a sua expressão global.


Aqui encontrará uma interessante entrevista do artista a propósito da obra.