
Leo Lionni nasceu, em Amesterdão, de um modesto polidor de diamantes e de uma cantora de ópera de origem italiana, expressando, desde muito cedo, um especial apreço pelas artes plásticas. Ainda que sem formação naquela área – licenciando-se, em 1935, em Economia Política –, foi desenvolvendo a sua habilidade artística em domínios como a escultura, a cerâmica, a pintura, o design gráfico e a ilustração. Em 1939, emigrou para os Estados-Unidos, onde se voltou para a publicidade enquanto director de arte de diversas publicações periódicas, até regressar a Itália, duas décadas depois, e se fixar como artista autónomo.
Fora por casualidade que, em finais dos anos cinquenta, Lionni se estreara na escrita e ilustração para os mais novos. Porém, desde o clássico Pequeno azul e pequeno amarelo (1959), com que o artista se exarara no grupo das vozes precursoras e paradigmáticas na criação de picture story books, até à sua última obra Uma pedra extraordinária, publicada em 1994 (e sem edição ainda em Portugal), Lionni deu voz a 35 anos de uma criação artística dedicada ao público infantil, relevando de uma obra consistente e merecedora de inúmeras distinções internacionais.
Influenciadas pela estrutura fabulística, as suas histórias, pautadas por uma evidente economia, são protagonizadas por animais humanizados movidos por sentimentos inerentes à infância. Desprovidas de veleidades moralizantes, denunciando as potencialidades que este tipo de estrutura ostenta em edições contemporâneas, as fábulas de Lionni aproximam a criança das mais distintas realidades da vida, alicerçadas, entre outros tópicos, na amizade, na aceitação da diferença e da individualidade humana, na partilha ou na entreajuda.
Fiel a uma imperante e sensível linguagem pictórica, apoiada num universo pitoresco de técnicas – algumas, até, revolucionárias, como foi o caso da sua primeira obra, na qual introduziu a representação abstracta, através do recurso à colagem e ao papel rasgado –, a sublinhar a dimensão lírica e artística da obra, Lionni converteu-se num dos mais reconhecidos ilustradores universais, influenciando grande parte da produção contemporânea e contribuindo para a divulgação e a legitimação do álbum narrativo ilustrado.
Carina Rodrigues
Para uma visão mais detalhada do percurso biobibliográfico do autor clássico, aceda a uma merecida homenagem publicada pela Kalandraka, com motivo desta efeméride.