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Depois de Que bonito é Panamá! e Correo
para o tigre, ambos editados sob a chancela da Kalandraka, respetivamente,
em 2010 e 2011, vem a lume, na mesma coleção dirigida a leitores iniciais, outro
clássico universal do célebre Janosch, pseudónimo de Horst Hecker (Hindenburg/Zabrze, 1931). Recorde-se que o artista plástico é um dos mais
relevantes autores da literatura infantojuvenil alemã, tendo sido responsável
por mais de duas centenas de publicações para crianças (e não só), amplamente
divulgadas e traduzidas em todo o mundo. Se as suas primeiras obras, sobretudo
vocacionadas para um público adulto, mais críticas e perpassadas por uma
tonalidade de fundo político, não conheceram o êxito comercial desejado,
Janosch alcança um reconhecimento internacional notável numa segunda fase do
seu percurso artístico/criativo, através, nomeadamente, das suas histórias para
os mais novos: livros que versam tópicos como a amizade e a tolerância, também capazes
de insinuarem, por via de uma subtil ironia, um ponto de vista mais crítico
sobre o mundo real.
Originalmente publicado em
1979, Vamos encontrar un tesouro. A historia de como ursinho e trigrezinho
procuram a felicidade na terra (Kalandraka,
2013) integra a sua famosa série sobre as aventuras dos dois inseparáveis amigos
convocados no subtítulo, narrando, desta vez, a sua história em busca de uma fortuna.
Depois de muito andarem, de se cruzarem com a toupeira, o peixe, a galinha, o
burro e o mocho, de cavarem na terra e nas profundezas do mar, de juntarem
muito dinheiro, de o perderem, de serem enganados e roubados, de discutirem e
fazerem as pazes, ursinho e trigrezinho descobrem como é, afinal, tão
bonita a vida na amizade e na simplicidade das coisas, ou, como descreve o
epitexto editorial, que «os verdadeiros tesouros da vida nem sempre são monetários ou materiais».
Carregado de humor, num
registo acessível e afetuoso, o livro acompanha as tentativas dos
protagonistas para encontrar um tesouro que satisfaça os seus maiores desejos,
mas também para acabar por descobrir que o melhor dos tesouros e a verdadeira
felicidade residem na sua amizade. Acompanhando a narrativa na exploração das
cumplicidades existentes entre estes dois fiéis companheiros, as ilustrações
coloridas e realizadas em traços simples, num estilo próximo do infantil, não
só recriam com pormenor as personagens e os momentos-chave da diegese, como
ampliam, não raras vezes, os seus sentidos, promovendo a identificação dos
leitores com o universo afetivo/intimista retratado.
Uma obra clássica bastante ajustada aos tempos atuais, a uma sociedade subjugada à usura e ao materialismo, que tende a hierarquizar as pessoas mais pela aparência do que pela essência.
Uma obra clássica bastante ajustada aos tempos atuais, a uma sociedade subjugada à usura e ao materialismo, que tende a hierarquizar as pessoas mais pela aparência do que pela essência.
Carina Rodrigues
Originalmente publicado em El Correo Gallego, a 7 de dezembro de 2013
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