. Temáticas próximas do universo
infantil, os animais e a variedade das espécies e da Natureza são as que servem
de cenário ao álbum Ninhos,
recentemente editado pela Kalandraka, com texto de Pepe Márquez e ilustrações
de Natalia Colombo. Preferencialmente dirigida aos mais pequenos leitores, esta
obra é, também, uma prova de que a simplicidade (aparente) se pode tornar num dos
mais eficazes ingredientes quando se deseja contar uma história por meio de
palavras e imagens.
Num estilo que combina uma especial poeticidade
e um humor subtil, a tocar, por momentos, o nonsense
(sobretudo a cargo da componente visual), a dupla argentina desvenda ao olhar
dos mais novos uma galeria de aves e apoia-se na metáfora do ninho − enquanto
símbolo da casa, lugar de proteção e maturação, e (des)abrigo do “eu” − para abordar
conceitos como a (bio)diversidade e a fauna, mas também a própria diferença nos
modelos familiares.
Partindo de combinações
pictórico-verbais hábeis em estimular a imaginação da criança, apelando à
reflexão e ao questionamento pelo preenchimento dos inúmeros “espaços em
branco” sugeridos por ambas as linguagens verbal e visual, a
delicadeza do tema é atenuada pela originalidade plástica dos seres e ninhos
retratados, e pela comicidade das associações propostas. Por sua vez, o texto breve, grafado
em letras maiúsculas, socorre-se das imagens para sublinhar a representação da
diferença ou a singularidade de cada espécie de pássaro/ninho correspondente, demonstrando,
à semelhança dos seres humanos, poderem ser, simultaneamente, muito diferentes
e parecidos entre si, e promovendo, deste modo, a identificação dos leitores
com o universo recriado. Numa técnica mista, com recurso à textura e a uma
reduzida e luminosa paleta cromática, os esquiços de Natalia Colombo, «esquemáticos
e de perfis pouco definidos», como assim definem os responsáveis editoriais o registo
plástico da premiada autora de Perto (Kalandraka,
2008), acentuam, pois, o carácter lúdico da obra, potenciando
uma mensagem, simultaneamente, clara, didática e divertida.
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Álbum metafórico e de impacto
emotivo, a singeleza da sua composição, harmoniosa, delicada e atrativa, a sua
simplicidade no fundo e na forma, são elementos que não só auxiliam a promoção
de hábitos de leitura, como garantem a adesão de pequenos e grandes leitores.
Atente-se, ainda, no final questionador e reflexivo da obra, cuja mensagem
recai sobre a simbologia do ninho, demonstrando que o importante não é o lugar
onde ele é colocado, mas o amor e o abrigo que encerra. Além disso, a recriação
de temáticas ligadas à diversidade da Natureza − e do mundo tout court −, apelando, ainda que de
forma mais ou menos explícita, à riqueza da diversidade social e familiar, também
fará sobressair, na obra em destaque, um elogio da diferença, defendendo a sua
aceitação e o respeito pela individualidade do Ser.
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Carina Rodrigues
Originalmente publicado em El Correo Gallego, a 14 de setembro de 2013
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